As referências intermidiáticas na escrita de A vegetariana, da autora sul-coreana Han Kang

Abstract

O presente estudo teve como objetivo geral analisar o romance A vegetariana (2007), da autora sul-coreana Han Kang, por meio da intermidialidade como chave de leitura. Publicado em 2007 na Coreia do Sul, o livro recebe o Prêmio Booker Internacional em 2016 (9 anos depois), ganhando atenção devido à tradução de Deborah Smith para a língua inglesa. Em meio às controvérsias sobre a edição não ser fiel à escrita da autora coreana, é inegável que esse reconhecimento alçou Han Kang e A vegetariana a um apogeu global, fazendo com que o romance fosse lido e estudado no mundo inteiro. Assim, no ocidente, apesar de ser um romance contemporâneo, a fortuna crítica já se mostra em um desenvolvimento voluptuoso. Então, acreditamos que é preciso analisar o contexto histórico ao qual pertence a obra e sua autora e, para tanto, utilizamos o campo de estudo da Intermidialidade para propor um exercício de leitura à obra A vegetariana. Partimos de um cruzamento de perspectivas: diacrônica, a partir da proposta de Müller (2012); e sincrônica, a partir dos estudos de Claus Clüver (1997; 2006; 2012) e Irina Rajewsky (2012a; 2012b); além do estudo interdisciplinar traçado por Lars Elleström (2021). Também traçamos um caminho de leitura da intermidialidade tanto como um fenômeno que apresenta uma rede complexa histórica quanto como categoria de análise. Em meados da década de 1960, a Coreia do Sul experiencia mudanças vertiginosas nas suas malhas históricas, políticas, sociais e econômicas, que reverberaram na produção artística — principalmente na literatura sul-coreana contemporânea. Dessa forma, discutimos a partir do estudo de Lee (2007), sobre a hibridez cultural na literatura contemporânea sul-coreana, e o uso do conceito de “escrita híbrida” — referente às mesclas dos textos literários com novos textos culturais que eram acessados pelos autores dentro dessa nova era globalizada, do fenômeno da Onda Coreana — e da sociedade de consumo em massa, que induziram os autores a pensarem em temas como as mutações destes relacionados à feminilidade, à sexualidade e à violência produzida por um mundo pós-industrial. A fim de construir um aparato teórico mais sólido em relação a esse trajeto histórico e cultural da literatura sul-coreana contemporânea, nos baseamos nos estudos de Cho (2000); Yi et al. (2001); Kim (2002); Lee (2003); Kwon e Fulton (2020). Portanto, a partir dessas considerações, vemos que Han Kang discute tanto sobre questões que abarcam o tema da feminilidade (o ambiente doméstico, a sexualidade feminina e a maternidade), como também discute sobre as consequências que os seres humanos têm de sustentar em razão dos avanços da pós-industrialização. Dessa forma, defendemos que esses temas podem ser acionados no texto de Han Kang a partir das referências intermidiáticas presentes no romance. Portanto, consideramos esse romance um feliz exemplo de amálgama do que a literatura sul-coreana contemporânea tem a oferecer ao leitor, e A vegetariana, a obra amalgamadora do projeto estético de Han Kang.