O lugar do docente de português no Instagram: práticas de escrita da redação nota mil

Abstract

O presente trabalho de conclusão de curso apresenta uma discussão sobre o lugar do professor de língua portuguesa no Instagram. Para isso, tenho como principal objetivo compreender o funcionamento da apropriação da forma-sujeito professor de português pelos sujeitos-usuários dessa rede social. Isto posto, levo em consideração os efeitos produzidos pelo ENEM enquanto principal exame vestibular do País, que afeta todas as práticas de ensino e de aprendizagem do sistema de educação básica brasileiro, sobretudo o Ensino Médio. Dessa forma, dentre as cinco provas que compõem o exame, volto meu olhar para a prova de redação, a única em que é possível atingir a nota mil. No decorrer dos últimos anos, o mercado educacional brasileiro aperfeiçoou-se e desenvolveu novas técnicas que possibilitam ao candidato atingir a nota máxima na redação, minimizando o esforço durante a realização do exame. Nessa conjuntura, essa disseminação dessas práticas tornou-se cada vez mais comum na internet, sobretudo nas redes sociais, como no Instagram, em que perfis adquirem prestígio por ensinar esse tipo de conteúdo de forma fácil e acessível. Sob essa ótica, não é mais necessário ser professor de português para ensinar sobre texto, pois, com base nos pressupostos da BNCC (2018) acerca do notório saber, qualquer sujeito-usuário que detenha conhecimento sobre dado assunto pode assumir a posição-sujeito de professor, apagando, consequentemente, esse local social. Nessa conjuntura, busco também i) identificar a concepção de texto adotada pelos perfis voltados à propagação de modelos prontos de redação do ENEM; ii) analisar os efeitos do empreendedorismo no apagamento do lugar de professor de português no Instagram; e iii) entender o funcionamento e os efeitos do espaço virtual nesses processos de apropriação, empreendedorismo e apagamento. Busco fazer isso ao longo de dois capítulos, sob a luz dos estudos de Althusser (1985), Brasil (2019, 2022), Grigoletto (2005, 2011, 2021), Grigoletto e França (2018), Han (2018), Kramer Wanderley (2020), Lévy (1996), Mariani (2018), Orlandi (2015, 2020), Paveau (2021), Pêcheux (2014a, 2014b), Pêcheux e Fuchs (2014), Schons e Grigoletto (2007) e Zuboff (2018). Metodologicamente falando, o corpus desta monografia é composto de capturas de tela de publicações de perfis que foram catalogados através da hashtag #redacaoenem e produzem materiais sobre a redação do ENEM, como dicas textuais, gramaticais e socioculturais, além de modelos textuais prontos. Dessa forma, com base nas sequências discursivas aqui dispostas, valho-me do referencial teórico da Análise de Discurso Pecheuxtiana para analisar as materialidades selecionadas, tendo em vista que esta me possibilita, por intermédio de seus dispositivos teóricos de interpretação, pensar na articulação língua-sujeito-ideologia. Como resultado desse percurso, no primeiro capítulo, pude, em primeiro lugar, compreender o funcionamento do algoritmo do Instagram, observando os efeitos da inteligência artificial nos gestos dos sujeitos-usuários que se inscrevem nessa rede social para, consequentemente, entender a noção de texto que norteia esses perfis, isto é, a de língua enquanto sistema. Em contrapartida, no segundo capítulo, pude refletir de forma produtiva sobre a noção de sujeito-usuário, os efeitos do empreendedorismo sob a luz da BNCC e as práticas de apagamento da forma-sujeito professor de português no Instagram.