Consumo alimentar e estado nutricional : um estudo com adolescentes da etnia Xukuru do Ororubá em Pernambuco

Abstract

A adolescência é uma fase marcada por intensas transformações, incluindo o consumo alimentar, o que, associado as condições de vida e de saúde, pode refletir negativamente em seu estado nutricional, sobretudo em populações indígenas. O presente estudo teve como objetivo avaliar o consumo alimentar e estado nutricional em adolescentes indígenas de 14 a 19 anos pertencentes a etnia Xukuru do Ororubá. Trata-se de um estudo transversal realizado no ano de 2022, no município de Pesqueira, estado de Pernambuco/PE. Para coleta de dados, utilizou-se questionários com dados socioeconômicos, demográficos, antropométricos e do estilo de vida. O excesso de peso foi avaliado a partir do índice de massa corporal para idade (IMC/I) ≥1 Escore-z. O consumo alimentar foi avaliado através do recordatório de 24 horas. Foram avaliados 225 adolescentes (sendo 42,7% do sexo masculino e 57,3% do sexo feminino), distribuídos proporcionalmente nas três regiões sociodemográficas (Serra, Agreste e Ribeira) da terra indígena Xukuru. A prevalência de excesso de peso encontrada foi de 14,2%, os fatores que se mantiveram associados ao desfecho, na regressão de Poisson foram: maior escolaridade materna (p=0,03), não possuir sanitário dentro domicílio (p=0,03), turno de estudo noturno (p=0,02), consumo de proteína (p=0,01) e insatisfação com o peso atual (p≤0,001). O consumo médio de energia dos adolescentes foi de 1398,7kcal (±200,2), houve maior contribuição calórica dos grupos de alimentos processados e ultraprocessados. No entanto, não foi encontrada diferença entre o grau de processamento dos alimentos com a ocorrência do excesso de peso. Os adolescentes da etnia Xukuru do Oroubá podem estar se apropriando de novas práticas alimentares junto às tradicionais, afetando a identidade étnica e cultural, com a incorporação gradativa de padrões de alimentação e nutrição, deixando-os vulneráveis a danos característicos dos povos não indígenas. Esses dados podem possibilitar a ampliação dos programas de educação alimentar e nutricional (EAN) no território, bem como ações oportunas de práticas alimentares saudáveis, visando a redução de agravos nutricionais de maior magnitude e redução de custos de cuidados com a saúde a longo prazo, garantindo melhorias para as futuras gerações desse povo.