Avaliação das interferências do uso de antidepressivos sobre biomarcadores laboratoriais: uma revisão literária

Abstract

Os medicamentos representam as principais fontes de interferência nos resultados de exames laboratoriais, e nem sempre é possível realizar a interrupção do tratamento antes da realização de exames de diagnóstico. Sabe-se que inúmeros medicamentos são capazes de interferir fisiologicamente ou analiticamente na estimativa dos biomarcadores laboratoriais, com a possibilidade de fornecer resultados falsos-positivos ou falsos-negativos. Os transtornos depressivos e os transtornos de ansiedade são considerados os mais prevalentes entre todas as doenças psiquiátricas. Paralelamente, a utilização de fármacos antidepressivos também vem aumentando em taxas expressivas e, muitas vezes, tal fato pode ser negligenciado durante a realização de exames laboratoriais, aumentando a possibilidade de diagnósticos equivocados. O presente trabalho teve por objetivo analisar as eventuais interferências ocasionadas pela utilização de medicamentos antidepressivos sobre os principais biomarcadores laboratoriais. Para isso, foi realizada a coleta das principais obras científicas na plataforma do Pubmed (Medline), por meio da busca eletrônica avançada utilizando as principais palavras-chaves (descritores) e operadores booleanos, em inglês (“Biomarkers"), (“Antidepressants”), ("Laboratory tests") e ("interferences"), bem como em português (“Biomarcadores”), (“Antidepressivos”), (Exames laboratoriais"), e (Interferências"). Entre os artigos selecionados, 14 atenderam aos critérios de inclusão e, portanto, foram utilizados na presente pesquisa. Esta revisão identificou que os antidepressivos da categoria dos inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) e os inibidores da recaptação da serotonina e noradrenalina (IRSN) são os que mais frequentemente causam alterações nos biomarcadores laboratoriais, provavelmente porque são os mais amplamente prescritos na prática clínica. O uso prolongado de antidepressivos levou a um aumento da glicemia e do colesterol em pacientes com depressão. Além disso, uma associação entre o uso de antidepressivos e alterações nos níveis dos hormônios tireoidianos também foi observada. Enquanto inúmeras evidências científicas apontam para uma interferência dos antidepressivos sobre diversos biomarcadores laboratoriais, esta revisão chama à atenção dos profissionais clínicos para a importância em considerar tais alterações que podem levar a falsos diagnósticos e a intervenções clínicas erradas.