Ética e educação na pós-modernidade : cartografando movimentos da docência em matemática e suas relações ao cuidado de si

Abstract

Dialogando com a Filosofia da Diferença, referenciada principalmente por Bauman (1999, 2007, 2011); Deleuze (1990, 1994, 2005), Foucault (1999, 2004, 2006, 2010a) e Rolnik (1989, 1993, 1997, 2011), a presente pesquisa emerge, a partir de um contexto pós-moderno, em que se entrelaçam poder, saber e subjetivação. Nessa conjuntura, poder e saber se fortalecem mutuamente produzindo subjetividades, neste caso nos docentes de matemática, compreendendo um percurso que vai de um histórico de saber inacessível que a matemática possui à atual política pública educacional que preconiza resultados. Tal política pública, repleta de ideias e intencionalidades, envolvem a educação e a docência; fato este que nos impulsionou investigar relações entre a subjetivação docente e a ética na perspectiva foucaultiana. Assim, objetivamos cartografar docentes de matemática em suas condições de trabalho, estabelecendo relações ao cuidado de si e discutindo conceitos envolvidos nessas relações. Situa-se nesta pesquisa a importância da filosofia da diferença como multiplicidade e, portanto, possibilidades ao contexto educacional vivido. O cuidado de si, como autonomia e prática ética de liberdade e a cartografia como meio de representar afetos que se agitam pedindo passagem. Nessa experiência ético-estética, relacionamos os resultados da pesquisa ao sistema solar, entendendo a educação como o sol, elo que une os educadores por objetivos comuns. Relacionamos os docentes aos planetas, ao exercerem movimentos de translação e rotação, respectivamente como submissão institucional e autonomia docente, remetendo este movimento ao cuidado de si, que segundo Foucault envolve conhecer a si, governar-se, exercer-se eticamente. Simultaneamente ao aprofundamento teórico, a pesquisa ocorreu em duas escolas públicas da rede estadual de Pernambuco, através de encontros entre pesquisadora e quatro professores por escola; posteriormente foram realizadas entrevistas individuais com os oito professores de matemática, para discussão de conceitos e produção de mapas narrativos com base nos temas: educação menor x educação maior, gestão por resultados, padrão e controle externo x multiplicidade e cuidado de si. Dessas produções foram observados os seguintes achados: a) linhas de forças como angústias, frustrações e esgotamentos identificáveis, e representados pelos docentes derivados da tensão entre a educação instituída e a educação vivida; b) subjetivações imperceptíveis decorrentes de capturas pós modernas, pautada por dependência e visão una, passíveis de moldar e limitar o devir docente; c) rotas de fuga e reinvenção docentes em relação a si e a docência. Evidencia-se, portanto, que mesmo perante adversidades, controle e subjetivações indesejadas, há em cada sujeito a capacidade múltipla e singular de mover-se, cuidar-se.