Dieta hiperlipídica materna : repercussões sobre a composição corporal, parâmetros metabólicos, fatores reguladores da miogênese e do fenótipo muscular da prole

Abstract

Há muitas evidências científicas quanto as repercussões de insultos ambientais nos períodos críticos do desenvolvimento sobre a funcionalidade de órgãos e sistemas e a correlação desta condição com a crescente incidência de doenças metabólicas na vida adulta. Objetivamos com esta investigação avaliar os efeitos de duas dietas hiperlipídicas maternas distintas sobre a composição corporal e o perfil bioquímico das matrizes e de seus descendentes e sobre a expressão de genes reguladores da miogênese e do fenótipo muscular ao desmame. Ratas Wistar foram divididas em 3 grupos de acordo com a dieta recebida no período de gestação e lactação em: Controle (CTRL, 19% proteína, 63% carboidratos, 18% lipídios, 3,60 kcal/g, n= 10); Hiperlipídica-hipercalórica (HH, 19% proteínas, 30% carboidratos, 51% lipídios, 4,62 kcal/g, n= 8); Hiperlipídica-isocalórica (HI, 19% proteína, 30% carboidratos, 51% lipídios, 3,64 kcal/g, n= 9). Foram avaliados evolução ponderal, consumo alimentar e perfil bioquímico materno e, na prole, mensurados parâmetros de crescimento somático, perfil bioquímico e expressão gênica de marcadores miogênicos e do fenótipo muscular. Os resultados não evidenciaram diferenças entre os grupos na ingestão energética, no ganho de peso materno, nos níveis de glicemia em jejum e no teste de tolerância a glicose (TTG). No entanto, as ratas HH apresentaram níveis inferiores de colesterol total e colesterol não-HDL em relação ao CTRL, enquanto as ratas HI apresentaram níveis inferiores de colesterol total e triglicerídeos, comparadas ao grupo CTRL. Os parâmetros do crescimento somático dos filhotes indicaram menor peso corporal do grupo HI no 1° dia pós-natal comparado ao CTRL e, no 15o e 21o, em relação ao CTRL e HH. Ao desmame, os filhotes HI apresentaram menor % ganho de peso, menor comprimento (versus HH) e menor crânio (versus HH). As análises bioquímicas evidenciaram maiores níveis de triglicerídeos e colesterol não-HDL no grupo HI em relação ao CTRL; e maiores níveis de glicose e menores de colesterol HDL em comparação ao grupo HH. A expressão dos genes Pax7, Myf5, Myod, Myog, Myh2, Myh4, Myh8 não diferiu entre os grupos. No entanto, foi observado diminuição da expressão de Myf6 e superexpressão de Myh7 nos grupos HH e HI comparados ao CTRL, sendo que a expressão de Myh7 do grupo HI foi inferior ao valor do HH. Além disso, foi evidenciado aumento da expressão de Mef2a no grupo HI em relação ao CTRL e redução de Mef2d no grupo HI comparado aos grupos CTRL e HH. Os resultados indicam que, além de reduzir o crescimento dos filhotes, a dieta HI foi capaz de alterar o metabolismo da glicose e de lipídios em idade precoce. Além disso, ambas as dietas hiperlipídicas repercutiram sobre a expressão do fator regulador da miogênese Myf6/MRF4 e a superexpressão do gene Myh7, codificador para fibras do tipo I. Diante disso, foi demonstrado que dietas hiperlipídicas maternas, em diferentes magnitudes, levam a repercussões fisiológicas e metabólicas importantes que podem favorecer o desenvolvimento de doenças crônicas precocemente.