Efeitos da agricultura de corte e queima nas respostas nutricionais foliares de plantas lenhosas da Caatinga

Abstract

As florestas tropicais sazonalmente secas ocupam todos os continentes habitados do planeta e abrigam aproximadamente 1 bilhão de pessoas. Uma consequência dessa ocupação são as crescentes perturbações antrópicas, como o maior uso da agricultura de corte e queima, que visa uma rápida limpeza e fertilização do solo para o próximo plantio e é uma das principais atividades agrícolas praticadas. Porém, o frequente manejo da terra utilizando essa técnica resulta no empobrecimento do solo e redução na efetividade de propagação e perpetuação das espécies vegetais, favorecendo aquelas que conseguem persistir no sistema através de propagação vegetativa (i.e., rebrotas ou rametas). Contudo, pouco se sabe sobre a resposta nutricional destas plantas que persistem no sistema após sofrerem corte e queima. Assim, este trabalho teve como objetivo entender como a agricultura de corte e queima afeta os nutrientes foliares de duas espécies da família Euphorbiaceae Croton argyrophylloides e Cnidoscolus bahianus com alta dominância em uma área de floresta sazonalmente seca no Parque Nacional do Catimbau sob constante perturbação humana. Os resultados foram obtidos através da comparação dos macronutrientes N, P e K, em indivíduos que persistiram após serem inicialmente cortados e queimados, realizando uma comparação nutricional das folhas antes e após o corte e queima. Ambas as espécies apresentaram queda nos valores médios de fósforo e um aumento nos níveis potássio foliar após a rebrota, enquanto que os níveis de nitrogênio não apresentaram diferenças em nenhuma das espécies após a perturbação. Nossos resultados sugerem que as duas espécies apresentam tolerância ao estresse térmico para conseguir rebrotar após o corte e a queima e conseguem manter seus níveis nutricionais de potássio e nitrogênio mesmo após a perturbação. Assim, em um cenário de constante e ampla perturbação por corte e queima, podemos esperar uma flora com folhas mais ricas em potássio e nitrogênio, consequentemente um solo mais rico, de forma que as folhas senis irão nutrir o solo e favorecer o desenvolvimento de outras plantas, o que caracteriza essas espécies como boas pioneiras para sucessão ecológica.