Tipo de dieta e composição corporal de crianças e adolescentes com paralisia cerebral em uso de nutrição enteral

Abstract

O objetivo deste estudo foi investigar a associação entre o tipo de dieta enteral, os parâmetros antropométricos e a composição corporal de crianças e adolescentes com paralisia cerebral dependentes da alimentação por via alternativa. Foi realizado um estudo tipo série de casos com 38 crianças e adolescentes com comprometimento motor grave alimentados por via alternativa, atendidos ambulatorialmente no Serviço de Gastroenterologia Pediátrica do Hospital das Clínicas de Pernambuco no período de janeiro de 2020 a março de 2021. O consumo alimentar foi estimado através do recordatório de 24h, a composição corporal por meio de bioimpedância com cálculo do índice de massa livre de gordura (IMLG) e índice de massa gorda (IMG) e o perfil antropométrico através do escore Z dos índices: estatura/idade (ZE/I) e índice de massa corporal/idade (ZIMC/I). Em caráter complementar foi avaliada a circunferência muscular do braço (CMB) e a área muscular do braço (AMB). A dieta enteral industrializada foi a mais utilizada (57,9%). A idade média de instalação da sonda ou gastrostomia foi de 5,5 ± 3,6 anos e o tempo médio de utilização de via alternativa foi de 3,7±2,6 anos. Foi observado déficit estatural em 65,8% dos participantes. A frequência de magreza foi de 29% pelo ZIMC/I. Foi evidenciado déficit de massa livre de gordura em 70,4% e excesso de massa gorda em 77,8% da amostra. Não foi encontrada associação significante entre o tipo de dieta e os parâmetros antropométricos, e de composição corporal, porém destaca-se uma tendência de predomínio de excesso de massa gorda em grande parte das crianças e adolescentes do grupo em uso de dieta enteral industrializada. Nos participantes com puberdade presente foi observado maior déficit estatural e baixa reserva muscular pelos parâmetros de CMB e AMB. Conclui-se que, no grupo de crianças e adolescentes estudados, com paralisia cerebral tetraparética espástica alimentados exclusivamente por via enteral e acompanhados ambulatorialmente por equipe multiprofissional, não houve diferença na composição corporal e nos parâmetros antropométricos em função do tipo de dieta recebida e que o uso da dieta enteral mista não foi associado à uma pior composição corporal. A composição nutricional da dieta industrializada mais utilizada pelos indivíduos dessa pesquisa (dieta hipoproteica e hiperlipídica) pode ter influenciado os resultados desfavoráveis, como a elevada frequência de baixa massa muscular e excesso de massa gorda.