Um modelo clínico para o desenvolvimento de sistemas computacionais de telemonitoramento obstétrico

Abstract

A tecnologia é um meio potencial de envolver as mulheres no cuidado de sua gravidez, incluindo-as como participantes ativas dos próprios processos de cuidado. O telemonitoramento obstétrico tem se tornado uma alternativa promissora para o acompanhamento gestacional a distância, especialmente para uso em locais onde o acesso a especialistas é escasso e pode ser incorporado na assistência como adjuvante no seguimento clínico das mulheres. A obstetrícia, como outras áreas da saúde, se alicerça sobre protocolos baseado em evidência, regras de decisão e conjuntos de dados bem definidos. Historicamente, estas definições são desenvolvidas e publicadas em linguagem natural, como arquivos PDFs. As exceções são conjuntos de dados restritos publicados em formato eletrônico. Apesar de muitas tentativas, a formalização dos processos e tomada de decisão em saúde não atingiu o seu uso disseminado. Embora ao longo dos 30 últimos anos tenha havido progresso em formalismos (por exemplo, BPMN), mesmo estes têm limitações importantes e ainda não foram amplamente implementados na saúde. O objetivo desta tese foi desenvolver a proposta de um modelo clínico expresso por um formalismo computacional que representa a semântica dos protocolos, regras de decisão e dados clínicos usados na assistência perinatal de uma gravidez de risco habitual a ser implementado em um sistema de telemonitoramento obstétrico. Estudo do tipo quantitativo e qualitativo, baseado no paradigma do Design Science Research (DSR) aplicado a saúde. Foi identificado o contexto operacional no qual um sistema de telemonitoramento pudesse ser aplicado baseado em um modelo clínico computacional. Foi realizada a revisão de literatura para compilação dos principais protocolos clínicos, trabalhos correlatos e características dos formalismos computacionais disponíveis. O formalismo adotado nesta tese foi o padrão openEHR, no qual o modelo formal de assistência perinatal foi desenvolvido. Em seguida, procedeu-se a validação do modelo por profissionais especialistas no domínio. Com base na instanciação do DSR para o cuidado perinatal, foi proposto um novo método (método KSWT), consistindo em quatro etapas: extração do conhecimento (Knowledge); Correlação com padrões existentes (Standards); Definição de protocolos em fluxograma de trabalho (Workflow); e Implementação de modelos de dados (Templates). Como resultado, foi gerado: 1) um mapa mental com 2454 dados clínicos, 2) um modelo de dados constituído de 172 arquétipos e 48 templates; 3) um Work Plan (Task Planning openEHR) representando: a) Consulta pré-natal; b) Avaliação de risco de assistência pré-natal; c) Trabalho de parto e assistência ao recém-nascido; d) Cuidados pós-parto; 4) implementação deste modelo em um sistema baseado em openEHR. A semântica dos protocolos foi representada de modo satisfatório no modelo formal. Como trabalhos futuros, as funcionalidades serão testadas na implementação, incluindo testes de usabilidade e estudos de ensaio clínico para acompanhar as gestantes em um cenário clínico real. A avaliação da pesquisa sobre morbidade, mortalidade e custo-benefício também pode ser realizada para auxiliar no planejamento das ações em saúde.