Adiposidade e alterações metabólicas em crianças com microcefalia pela Síndrome da Zika Congênita

Abstract

A Síndrome da Zika Congênita (SZC), descrita em 2016 no Nordeste do Brasil, cursa com agravo cerebral precoce, baixo peso ao nascer, desnutrição e stunting no início da vida; fatores de risco já descritos para adiposidade e alterações metabólicas na infância. O espectro clínico da SZC ainda não foi completamente descrito e manifestações tardias precisam ser estudadas. O objetivo dessa pesquisa foi avaliar a frequência de adiposidade e alterações metabólicas em pré-escolares com SZC e sua relação com excesso de peso e adiposidade central (relação circunferência abdominal/estatura). Esse é um estudosérie de casos, realizado entre março e agosto (2019), no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco. Em 52 pré-escolares com SZC foram avaliados índices antropométricos, adiposidade subcutânea (por dobra cutânea), central (pela relação cintura/estatura) e visceral (por ultrassonografia), além de indicadores bioquímicos: lipídeos séricos e hemoglobina glicada. Metade das crianças tinha adiposidade visceral, com 8,7% apresentando esteatose hepática; 48% adiposidade central e 32% subcutânea. Adiposidade visceral foi mais frequente em crianças eutróficas (70,6%) do que nas com excesso de peso (28%). Dislipidemia ocorreu em todas as crianças eutróficas e com excesso de peso, e em 80% daquelas com magreza, sendo que 25% da amostra total já apresentava sinais de síndrome metabólica. Hipertrigliceridemia e sinais de síndrome metabólica estiveram significantemente associados ao aumento da relação cintura/estatura. Adiposidade e alterações do metabolismo ocorrem precocemente em crianças com SZC, mesmo na ausência de excesso de peso e adiposidade central, sugerindo que a infecção intraútero pelo vírus pode estar associada à adipogênese e alterações precoces do metabolismo.