Desenvolvimento e validação de um questionário de frequência alimentar quantitativo para crianças dos 7 aos 10 anos de idade do município de Vitória de Santo Antão

Abstract

Os casos de obesidade, sobretudo em fases de crescimento e desenvolvimento, têm aumentado em escala mundial. Dentre as suas causas está ao excesso do consumo de alimentos ultra processados (AUP), que favorecem ao desenvolvimento do excesso de peso e doenças cardiometabólicas. Estudos com o “Projeto Crescer com Saúde” tem avaliado as interferências ambientais (níveis de atividade física e hábitos alimentares) em crianças de Vitória de Santo Antão. No entanto, não existem instrumentos que permitam a avaliação do consumo habitual desta população. Com isso, o objetivo do presente estudo foi desenvolver e validar um questionário de frequência alimentar (QFA) quantitativo para crianças dos 7 aos 10 anos de idade do município de Vitória de Santo Antão. Foram aplicados três recordatórios 24 horas (24-HRs) para avaliar o consumo alimentar de três dias da semana (domingo, segunda-feira, terça-feira). Os alimentos que apresentaram 95% da contribuição relativa (CR) para energia, carboidratos, proteínas, lipídios, ferro, cálcio, retinol e sódio foram selecionados. Além disso, alguns alimentos considerados regionais que não foram citados pelas crianças também foram adicionados ao QFA para torna-lo representativo. A partir da seleção dos alimentos, foi desenvolvido um QFA quantitativo. Além disso, foi desenvolvido um álbum fotográfico de quantificação alimentar para auxiliar na identificação das porções. Em seguida, o QFA passou pelo estudo de validação, onde foi comparado a três 24-HRs, que avaliaram dias da semana (domingo, terça-feira e quinta-feira) com intervalo de 14 dias entre cada aplicação. Ao final da aplicação dos 24-HRs, outro QFA foi aplicado para avaliar a reprodutibilidade. Não foi observada diferença média entre QFA e 24-HRs para carboidratos, cálcio, retinol e sódio. Os coeficientes de correlação brutos apresentam variação entre 0,45 (p <0,000) para lipídios e 0,37 (p <0,000) para carboidratos. Após o ajuste energético, as correlações variaram de 0,35 (p <0,000) para proteínas a 0,26 (p = 0,007) para cálcio. Após a deatenuação observou-se um aumento nos coeficientes de correlação. Através do Bland-Altman, observou-se concordância entre métodos, visto que os valores se apresentaram aleatoriamente perto de zero e dentro dos limites superior e inferior. Todos os macronutrientes e o cálcio apresentaram coeficientes de correlação intraclasse satisfatório (> 0,400), exceto os carboidratos e alguns micronutrientes. Entre os QFAs, foram encontradas correlações moderadas para calorias (r = 0,43; p <0,000), proteína (r = 0,54; p <0,000), lipídios (r = 0,41; p <0,000), ferro (r = 0,47; p <0,000) e sódio (r = 0,43; p = 0,000). Os demais nutrientes apresentaram correlações fracas. Os valores médios de calibração entre QFA e 24-HRs foram semelhantes para todos os nutrientes avaliados. Desta forma, o QFA desenvolvido foi validado e reprodutível para avaliar o consumo de energia, macronutrientes, cálcio, ferro e sódio.