Efeito do debate crítico na redução da polarização do discurso argumentativo em sala de aula

Abstract

Pesquisa idiográfica que investigou o efeito de uma disciplina que privilegia a prática intensiva e sistemática em argumentação crítica – DIP/MDC (LEITÃO, 2012) – sobre o grau de compromisso inicial dos participantes com seus pontos de vista a respeito dos temas debatidos. Os pressupostos psicológicos de partida são, a premissa teórica de mútua constituição e indissociabilidade entre cognição e linguagem, esta (VIGOTSKI, 2000; VALSINER, 2007; VALSINER & VAN DER VEER, 2000) entendida como um produto histórico constitutivo do homem e organizadora do psiquismo humano (MORATO, 1996). Como também, o papel constitutivo da argumentação nos processos cognitivos e no desenvolvimento do pensamento (BAKER, 1996; KUHN, 1991; LEITÃO, 2007, VOSS & VAN DYKE, 2001). Da polarização, compreendida como uma possível resposta da argumentação, na qual a reação diante do argumento, depende da forma como o debatedor se compromete (dialógica –WALTON, 1993; 2010 – e afetivamente – TABER & LODGE, 2006) a apoiar algum ponto de vista, quando lhe é desafiado em um contexto de produção específico (BILLIG, 1989; BROOKFIELD, 2006; VAN EEMEREN, 2010; WALTON, 1993; 2010). O cenário de construção dos dados, foi uma disciplina introdutória de um curso de psicologia – nomeada de DIP/MDC (LEITÃO, 2012). Disciplina cujo currículo é organizado em ciclos temáticos de discussão crítica que seguem uma mesma sequência de fases e ações pedagógicas: familiarização/engajamento, preparo para o debate crítico, debate crítico, e fechamento. Contexto (criado) que favorece o exame sistemático e intensivo das posturas que existem a favor e contra aos temas controversos que integram o currículo. Para cumprir com os objetivos propostos nesta tese, analisou-se de forma minuciosa e detalhada as possíveis transformações e mudanças do grau de compromisso que alunos – 27 casos – têm com seus próprios pontos de vista a respeito dos temas discutidos na sala de aula – natureza sociocientífica e científica. Para esse fim, capturou-se, microanalíticamente, as possíveis mudanças na forma como os alunos elaboram, reiteram ou se opõem, quando defendem suas posições. Para isso, usou-se a tríade dialógico-discursiva, argumento, contraargumento, resposta (LEITÃO, 2000). Além disso, contou-se com os indicadores discursivos – modalizadores (CASTILHO, 2000), reiteração (MARCUSCHI, 2006; KOCH, 2006) –, em contexto de produção em que estes marcaram as possíveis mudanças na força e na direção dos argumentos produzidos. No nível macroanalítico, observam-se algumas regularidades em relação ao grau de compromisso com os próprios pontos de vista. Como resultado, pode-se concluir que há mudança no grau de compromisso dos próprios pontos de vista, independentemente, da natureza do tema. O compromisso sofre mudanças na direção do posicionamento, a favor ou contra da controvérsia, e no grau de força, alta, moderada ou baixa. Uma maior porcentagem de alunos começa o ciclo de debate com posicionamento intermédio/moderado, contudo, a partir do tema científico, há menos mudança desse posicionamento inicial, do que no tema sociocientífico, observando-se, assim, mudanças em direção e força. Finalmente, o cenário proposto pela DIP/MDC teria algumas estratégias de debiasing – mecanismos inerentes às práticas em argumentação – que favorecem ao aluno a apreensão quanto a regular o grau de compromisso com seus próprios pontos de vista.